A Arkane sempre foi um estúdio que coloca as decisões dos jogadores no centro de suas ideias. Dishonored oferece muitas opções em como abordar seus alvos. Deathloop, criador pelo estúdio irmão da Arkane Austin em Lyon, deixa que você siga com a história de formas quase infinitas. Prey te oferece ferramentas para desvendar o mistério do game, mas não impede em usar essas ferramentas da forma que quiser.
Por isso, nada melhor do que o novo projeto do estúdio Arkane Austin, Redfall, seguir esse mesmo caminho. Só que a maneira com que o jogo lida com as escolhas do jogador é surpreendentemente nova. A forma como você tenta recuperar uma ilha de Massachusetts, nos EUA, repleta de vampiros será definida tanto por qual será seu personagem quanto pelas interações de fato.
O elenco de quatro heróis de Redfall é o maior que um jogo da Arkane já ofereceu. Após jogar uma demo do jogo por cerca de 90 minutos, usando dois personagens diferentes, ficou bem claro qual é a intensão do time de desenvolvimento: Redfall é um jogo que abre muitas possibilidades baseado com quem você joga, possibilidades em mecânicas, combate, exploração e até mesmo a forma como conta sua história.
A missão de história que joguei era bem simples: ir até uma mansão nos limites da cidade, entrar em um laboratório de um cientista e descobrir a conexão dele com a praga de vampiros que te deixou preso na ilha. Ir até a mansão á a parte mais difícil. Eu decidi ir direto atravessando o centro de Redfall (a cidade), passando por ninhos de vampiros e territórios de cultistas violentos até chegar no local da mansão, que estava sendo patrulhado, como esperado, por muitos inimigos. Muitos dos caminhos são em ambientes urbanos, com ruas abarrotadas, muros altos e sem tanto espaço assim para se movimentar.
Cada personagem vem com uma gama de habilidades que podem ser evoluídas e, como eu descobri, isso faz uma diferença enorme para essa jornada. Eu joguei essa mesma missão com dois personagens – Devinder Crousley e Remi de la Rosa – e descobri que a forma como joguei é afetada inteiramente por essa escolha.
Aqui está como essas partidas foram:
Jogando com Remi
Remi faz parte de uma equipe de elite de resgate da Marinha dos EUA e uma típica heroína de filmes de ação. Ela passou a vida toda nas linhas de frente e está equipada para lidar com as monstruosidades de Redfall com força bruta. Só que ela também é uma engenheira, e trouxe seu companheiro robótico, Bribón, para ajudá-la a fazer as coisas com um pouco mais de elegância do que simplesmente matar tudo o que se move.
Como esperado, as ferramentas a disposição de Remi foram feitas para ela derrubar grupos de inimigos no corpo a corpo (e ela ainda tem habilidades passivas que permitem aumentar esse dano, te levando ainda mais fundo nesse estilo) enquanto mantem ela viva fazendo isso.
A habilidade mais agressiva dela é uma bomba C4 que pode ser detonada remotamente, permitindo causar dano em muitos inimigos de uma vez, ou colocar armadilhas para guiar os inimigos para a morte. Para ajudar Remi nessa última opção, ela também pode usar Bribón (que é um personagem controlado pelo jogo, com sua própria barra de vida e ataques) para emitir uma sirene, alertando inimigos e atraí-los até você.
Combinar essas duas habilidades foi essencial para conseguir atravessar as ruas de Redfall. Após avistar inimigos, eu jogava uma C4 e preparava a sirene de Bribón. Um grupo atacava o robô enquanto eu me esgueirava deles e os flanqueava. Ao aumentar o nível da habilidade de sirene que me deixava dar mais dano a inimigos que eram atraídos por ela, eu os finalizava com uma escopeta, usando uma estaca anexada a arma para matar qualquer vampiro que deixava em um estado vulnerável.
Se as coisas se complicam, eu posso me valer da habilidade ultimate de Remi, Mobilize, criando um ponto que me curava enquanto eu estivesse dentro desse espaço. Nessas horas, eu jogava um personagem estilo “tanque” clássico, absorvendo muito dano enquanto dava ainda mais dano.
A maioria dos vampiros não podem ser mortos só com balas, por isso em lutas contra múltiplos monstros, eu mudava minha arma para uma que atirava raios ultravioletas, que é inútil contra inimigos humanos, mas que pode fazer vampiros virarem pedra rapidinho, só esperando para que eu finalizasse com um simples golpe corpo a corpo.
Eu limpei ninhos de vampiros (espaços físicos que oferecem grandes recompensas ao completar seus desafios) e desbloqueei um esconderijo, que te dá um lugar seguro, um ponto de viagem rápida e ainda missões extras. Só que atrair tanta atenção nas ruas também aumentou a atenção dos Deuses Vampiros da ilha. Conforme me aproximava da mansão, uma chuva de raios surgiu ao meu redor e vi o Rook aparecer, um mini chefe brutal focado em combate corpo a corpo e enviado para me matar por fazer tanto estrago pelo caminho. Isso é uma situação emergente colocada de forma bem legal, e um desafio extra projetado para te testar quando começar a dominar o combate.
Com a experiência que consegui ao derrotar esse chefe, eu também aumentei o nível da C4 para me fazer pular após a explosão, não tomando dano de área e eliminando dano de queda, mas eu usei isso principalmente como uma nova forma de ficar atrás dos inimigos enquanto eles estão distraídos, e quando entrei no espaço da mansão, eu combinei minhas habilidades para limpar o máximo de inimigos possível nos jardins por causa da quantidade de dano que poderia absorver, antes de entrar nos corredores sinuosos com um lançados de estacas (capaz de acertar a maioria dos vampiros) para derrubar qualquer um que tenha sobrado.
Como podem perceber, jogar com Remi sozinho transforma Redfall em uma experiência de ação, pedindo para você equilibrar risco e recompensa o tempo todo. Só que jogar como Devinder ofereceu um clima bem diferente na mesma missão.
Jogando como Devinder
Pense no Devinder como, essencialmente, todos os quatro Caça-Fantasmas em um só: ele tem a expertise científica do Spengler, o entusiasmo de Stantz, o comportamento frio de Zeddemore e a sagacidade de Venkman.
Um diretor de cinema e autor com uma audiência interessada no paranormal, os recursos dele envolvem invenções que ele mesmo criou para achar e documentar entidades sobrenaturais, mas que agora ele precisa evoluir para tentar matá-las também.
As ferramentas de Devinder são bem diferentes das da Remi. O seu Arco Javelin tem ataque a média distância que funciona como uma combinação de estaca e ataque de efeito em área, enviando eletricidade para incapacitar inimigos (e vampiros podem ser logo mortos ao serem acertados por seus raios). Sua habilidade final, Blacklight, é uma arma de raio ultravioleta super poderosa, que pode transformar toda uma área de vampiros em pedras quase instantaneamente, o que é muito útil para se livrar de uma canto apertado.
E é isso que torna interessante jogar como Devinder – o recurso final de seu conjunto de ferramentas é tanto sobre evitar chamar a atenção quanto para lidar com essa atenção. O Translocalizador é o mais próximo que Redfall tem do Blink de Dishonored: um dispositivo que você pode jogar e que permite se transportar instantaneamente onde ele fica. Como resultado, em vez de partir pra ação nas ruas, eu passei a maior parte da jornada andando pelos telhados, matando Watches silenciosamente (que são vampiros que agem como câmeras de segurança) com meu Javelin e me esgueirando para passar de grupos maiores.
Como aconteceu com Remi, eu lidei com um ninho de vampiro pelo caminho, mas em vez de tiro e porrada, eu cuidadosamente escalei o telhado de uma igreja, entrei em um campanário e me rastejei até a luta em vez de derrubar os guardas ao redor. Sem atrair muita a atenção, eu também não tive que lidar com o mini chefe, que teria sido um desafio bem maior por causa do conjunto de armas feito para um combate de longo alcance.
Até mesmo no terreno da mansão as coisas saíram diferentes com Devinder. Em vez de entrar pelo portão da frente, eu usei o Translocalizador para me esgueirar até o jardim de trás, evitando as áreas mortas de Névoa Sanguenta que forçou Remi a usar a porta da frente. Parecia que eu estava jogando o mesmo game, mas feito por outros desenvolvedores, com objetivos diferentes de te desafiar, adicionando camadas de quebra-cabeça em cima do tiroteio desenfreado.
Mas talvez a minha parte favorita em jogar com Devinder não foi a parte da jogabilidade, e sim como ele contou a narrativa ao longo da partida. Como um cientista paranormal, as interações de Devinder com tudo isso não eram baseadas em raiva, medo ou triunfo e sim por fascinação.
A cada novo tipo de vampiro que encontrava, ele falava de suas características físicas e de comportamento, finalizando por ele dando um nome para cada um: Watcher, Shroud e assim por diante (Devinder claramente é um membro do grupo criando a taxonomia dos vampiros que é usado pelo resto do time). É uma escolha adorável, fazendo da partida com Devinder parecer muito mais um documentário sobre vampiros do que uma história de ação.
Tudo Junto e Misturado
É claro que os dois outros personagens, Layla e Jacob, teriam dado outro tipo de experiência ao jogo. E isso porque só estamos falando de jogar sozinho, porque os personagens também possuem habilidades pensadas para a cooperação (o que aumenta o número de inimigos que você precisa enfrentar).
Remi pode aumentar o nível de Bribón para curar todo os membros do time que estão próximos, enquanto Devinder pode aumentar o dano feito por aliados por meio de “Comentários Coloridos”. Eu estou tão animado para ver como esses diferentes recursos vão funcionar quando combinadas quanto para testar sozinho.
Até mesmo nesse estágio inicial, a reviravolta na fórmula tradicional da Arkane de permitir os jogadores se expressarem é animadora, tanto em partidas sozinho ou cooperativas. Eu estou bem empolgado em experimentar esses outros personagens e me aprofundar em como Redfall vai nos permitir experimentar com seus recursos.