Ficamos curiosos ao ler sobre o desenvolvimento de um jogo que teria como personagem principal um dos ícones literários de muitas gerações. Sherlock Holmes já foi conto literário, já foi livro, já foi filme e já foi seriado. Faltava ainda abrilhantar as telas de nossas casas e nosso querido Xbox One com seus mirabolantes casos de investigação.
A estreia da personagem no Xbox One ocorreu com um dos títulos de lançamento do console: Sherlock Holmes – Crimes & Punishments. O título tinha até boas intenções, porém, pecava miseravelmente por ter uma baixa qualidade gráfica e uma mecânica de difícil acesso.
Sherlock Holmes – The Devil’s Daughter chega com a promessa de recuperar junto aos fãs a imagem do famoso detetive londrino, com olhar preciosíssimo e dono do mais famoso nome dentre os detetives particulares da nossa e de muitas outras gerações.
O jogo contém 5 casos únicos, todos com crimes não relacionados. Você viverá o papel do famoso investigador resolvendo os crimes mais mirabolantes que possa imaginar, com desfechos e possibilidades de chegar (ou não) ao verdadeiro culpado.
De forma paralela, cada caso também traz consigo uma pequena ligação com a história pessoal de Sherlock. Você receberá um novo vizinho (nova, para sermos mais precisos), que possui uma relação bastante misteriosa com nosso investigador.
Ao tempo em que você descobrirá quais são as suas relações com a senhorita Alice De Bouvier também passará a ter mais detalhes sobre o passado do pai de sua filha adotiva. É nesta relação que se encontra a história que preenche o pano de fundo do jogo. E devemos dizer que ela está à altura dos famosos contos de Sherlock Holmes.
SH: TDD não é uma obra de arte quando o assunto são os gráficos. Em comparação com outros títulos mais atuais ele é simplesmente normal. Mas é preciso levar em consideração que a Frogware é uma desenvolvedora independente e que este título é a sua obra prima.
Sob esta ótica vemos um jogo com cenários detalhados, bons efeitos de iluminação e texturas em alta definição. As reações dos NPC’s também merecem destaque, pois, apesar de o estúdio não ter utilizado técnicas de captura avançados como vemos em títulos de maior orçamento, temos um efeito satisfatório.
Um dos problemas que enfrentamos ocorreu em alguns momentos que focamos mais fortemente na “leitura” das personagens. Neste momento, a câmera se aproxima do NPC e você começa a realizar a leitura de alguns pontos de destaque que indiquem, por exemplo, doenças, emoções ou machucados. Estes pontos são realçados por textos (semelhante ao que ocorre na série de TV da NBC). Em alguns momentos surgiram texturas de baixa qualidade e serrilhados, causando certo incômodo.
Superados estes pormenores, a qualidade gráfica do jogo não é excepcional, mas aceitável.
Aqui está o fator que julgamos ser o sucesso e o calcanhar de Aquiles do título.
Primeiro falamos de como é a jogabilidade. Você controla efetivamente Sherlock Holmes. Pode andar livremente pelo cenário, interagir com objetos e NPC’s ou ainda, dar algumas voltas no controle do cachorro investigando rastros olfativos. As possibilidades de interação são consideráveis e em muitos casos, justificam-se pela necessidade de resolução dos casos que estão em investigação.
O outro ponto de relevância dentro deste tópico é a estrutura em que o jogo está organizado. E aqui fazemos questão de enfatizar a grande evolução em relação ao título anterior. Basicamente você coleta pistas investigando o cenário, conversando com outras personagens ou se utilizando de suas habilidades de percepção e criatividade. Essas pistas podem ser unidas para a formação de uma dedução que, concatenada com outras pistas e deduções, te levará a formar uma conclusão. Suas conclusões podem ser corretas ou não. Em caso de conclusões precipitadas (e erradas) talvez você precise recomeçar o episódio. Você também terá a opção de julgar a sua conclusão, condenando ou absolvendo o indivíduo que está no centro de sua investigação. Essa funcionalidade tornou particularmente interessante o desenvolvimento do jogo, dando maior dinamismo que o que encontramos no primeiro jogo da Frogware.
Agora falemos dos problemas. Em alguns momentos a interação é travada, obrigando o jogador a mexer com o comando em várias direções até conseguir pressionar o botão correto para interagir com o cenário ou personagem. Outro ponto de dificuldade é a necessidade de realizar certas ações que, normalmente, não são justificadas. Exemplificamos: Durante a resolução de um caso, precisamos seguir uma pista olfativa utilizando as habilidades do nosso parceiro canino. Ocorre que para iniciarmos a ação, precisamos fazer uma transição (com loading) para a casa de Holmes e em seguida, outra até a cena do crime e não simplesmente mudando para o controle do cão. Pode parecer bobeira, mas essas situações nos deixaram impacientes em alguns momentos.
Fora as dificuldades com a interação com o cenário, os dois maiores problemas técnicos do jogo são: loadings excessivos e queda de frame rates. A cada alteração de cenário enfrentamos um loading de quase um minuto, o que muitas vezes quebrava o ritmo do jogo e nos colocava em situação de espera. Além desta dificuldade, também tivemos constantes quedas de frames, principalmente em cenas de ação ou com pequenas cinemáticas que utilizavam a própria engine do jogo.
Apesar das falhas o jogo conseguiu superar com louvor Crimes & Punishments, então preferimos avaliar este quesito observando a evolução em relação ao título anterior e não apenas o apenas o jogo em si. Por este aspecto, SH – TDD é um exemplo para produtoras que ainda hoje insistem em utilizar gráficos ultrapassados e texturas de baixa qualidade sem a menor justificativa (Alô Activison! Vamos atualizar Call of Duty, ok?).
Os efeitos sonoros estão dentro da medida, ambientando o jogo de forma adequada. A trilha sonora cumpre seu papel, com destaque para as cenas onde o jogo tenta criar a sensação de urgência ou de ação.
A dublagem é um ponto que merece observação: está com boa qualidade, porém, em alguns momentos encontramos falta de sincronia entre o que a personagem dizia e o áudio que era escutado. Sobre a voz dos atores, não chegam a impressionar e tão pouco a ter semelhança as que encontramos nas (brilhantes) interpretações de Benedict Cumberbatch e Martin Freeman, mas são adequadas e bem realizadas. O ator que interpreta J. Watson, por exemplo, consegue muitas vezes surpreender com a interpretação nos momentos de “maluquice” de Sherlock ao longo do jogo.
Não espere algo digno de uma “2001 – Uma Odisseia no espaço”. Espere, porém, uma trilha aderente à proposta do game e que cumpre bem o seu papel.
A grande maioria das conquistas está relacionada à própria história do jogo. Você as desbloqueará ao longo da campanha e à medida que cumpre determinados objetivos.
Observamos que, dentro de cada caso, há alguns “mini objetivos” que devem ser realizados pelo jogador, de forma que consiga avançar dentro das deduções corretamente.
Este é um tópico que sempre causa (MUITAS) discussões. Afinal, o jogo é ou não é divertido?
Além das dificuldades técnicas, encontramos um jogo com uma proposta interessante e com algo que sentimos faltas nos títulos que temos no mercado: Puzzles. E nem todos são assim tão simples de se resolver. O jogo te obriga a olhar os detalhes, ler as notas de rodapé e interagir com as personagens, tudo com o objetivo de pegar o máximo de pistas possíveis para formar a dedução correta. E aqui é o ponto onde encontramos o maior destaque do jogo: Sherlock Holmes – The Devil’s Daughter não se destaca por sua qualidade gráfica, por sua engine refinada ou por efeitos sonoros brilhantes. Seu diferencial está, principalmente, pela proposta de transformar o jogador no investigador mais popular em séculos.
A cada pista encontrada, a cada dedução formada e a cada conclusão correta, nos sentíamos verdadeiros “consultores criminais” e, por esta fala, é perceptível que o título alcança seu objetivo, apesar das dificuldades técnicas que possui. Essa sensação era realçada principalmente pelo fato de que a mecânica do jogo ser muito semelhante à que foi utilizada na série televisiva da NBC para dar vida aos personagens de Sir Conan Doyle.
Em resumo: É divertido. Experimente e com certeza gostará do resultado final.
Sherlock Holmes – The Devil’s Daughter é a obra prima da Frogware, empresa independente que decidiu ousar no mercado e lançar títulos com o famoso investigador londrino. Apesar dos problemas técnicos o título diverte bastante, principalmente em função do seu sistema de pistas, deduções e julgamentos.
Mesmo com todas estas dificuldades, recomendamos o jogo. Aos fãs de Sherlock, este é um título obrigatório. Aos curiosos, recomendado com a ressalva de que levará tempo até você se tornar tão detalhista quanto nosso querido consultor criminal.